Em 30 de Agosto de 1999 aconteceu o referendo em Timor-Leste. O resultado desse referendo foi uma natural e estrondosa resposta que os timorenses deram à Indonésia e à comunidade internacional: sim, queriam ser livres, independentes, estar longe da identidade e da subjugação aos torcionários, carrascos e assassinos indonésios. Cabinda continua também à espera de um referendo para que o seu Povo possa dizer o que quer.
Livres do criminoso regime de Suharto – um general que para se impor no país já havia assassinado ao longo de anos dezenas de milhares dos seus compatriotas em todo o território herdado do colonialismo Holandês.
A resposta inequívoca dos timorenses no referendo foi de mais de 78% a favor da independência de Timor-Leste, a favor da libertação de Timor Lorosae do jugo dos invasores.
Foi então que as milícias pró-indonésia reagiram criminosamente, com a violência que ceifou as vidas de mais de 1.400 pessoas, segundo dados oficiais (claro que foram em maior número). Foi o terror coordenado pelo exército e polícias indonésias. Mais um crime contra os timorenses que ficou impune.
A 30 de Agosto comemoram-se 20 anos da grande vitória democrática do povo timorense, assim como se comemora a homenagem às vítimas da sanha assassina indonésia naquela que foi a sua última acção no genocídio que perpetrou e praticou contra os timorenses, contra Timor-Leste. Todos esses crimes foram votados à impunidade de altos responsáveis políticos, das suas forças armadas e das polícias de Suharto e depois de Habibe – que era então o presidente indonésio.
Durante aquele período de matança indiscriminada, após o conhecimento dos resultados do referendo, o terror foi documentado pela imprensa internacional que se deslocara a Timor-Leste. Foi marcante, até traumatizante, a impotência, a angústia e a revolta, a tristeza, dos que viram por todo o mundo tais imagens de selvajaria das forças pró-Indonésia em cumplicidade com generais, outras altas patentes militares e das diferentes polícias do regime de Suharto. Entidades que escaparam impunemente aos seus crimes, assim como a maioria dos assassinos filmados e fotografados a mutilar e assassinar timorenses só porque queriam e querem ser livres na sua Pátria, Timor-Leste.
Vinte anos volvidos, Timor-Leste é livre, independente, democrático. De 1999 até agora muito foi feito por todos os timorenses. Depois de terem ficado com um país totalmente destruído, queimado pelos criminosos da Indonésia, eis que se ergue uma jovem nação que em pequena meia-ilha, é, em muitos aspectos, exemplo positivo para o mundo, tendo por protagonista o seu povo.
É evidente que muito falta fazer para melhorar a vivência quotidiana dos timorenses. Urge travar a corrupção, o crime económico, o enriquecimento desbragado e injustificado de alguns das elites que são uma das causas principais das carências alimentares, de infra-estruturas, de saúde, entre outras, que afecta cerca de metade dos timorenses.
Porque enquanto há vida há esperança devemos esperar o melhor para o futuro de Timor-Leste. O melhor inclui a superação do desemprego e de muitas das dificuldades atuais da vivência das populações, mais de metade da sua população. Talvez 800 mil numa população que ronda um milhão e 300 mil.
E um referendo em Cabinda?
No dia 28 de Abril de 2011, a SIC – Notícias (Portugal) publicou – tal como muitos outros órgãos de comunicação social – o seguinte texto:
«O apoio de Portugal à realização de um referendo sobre o futuro do enclave angolano de Cabinda é muito importante, inclusive para que esta questão não seja esquecida, defende o jornalista Orlando Castro.
O jornalista abordou a questão do enclave de Cabinda, no livro “Cabinda, Ontem Protectorado, Hoje Colónia, Amanhã Nação”, a ser lançado na sexta-feira, em Lisboa, e no dia 5 de Maio, no Porto.
“O objectivo (do livro) é, de facto, alertar para a necessidade do povo de Cabinda ser ouvido quanto ao que pretende para o futuro da sua terra”, disse à Agência Lusa Orlando Castro.
Ao longo livro, o autor refere que recorreu a tratados estabelecidos entre Cabinda e Portugal antes do 25 de Abril, nomeadamente, o de Simulambuco, assinado em 1885 e que colocou Cabinda sob protectorado português.
“O objectivo do livro é também contribuir para que a questão de Cabinda não caia no esquecimento e que, sobretudo em Portugal, mas também em Angola, se compreenda que Cabinda não é, pelo menos do meu ponto de vista, uma província de Angola”, sublinhou o jornalista.
O livro também analisa, segundo o autor, “o que se passou na altura da independência de Angola (1975), em que Portugal não reconheceu o movimento, nomeadamente a FLEC (Frente de Libertação do Estado/Enclave de Cabinda), que lutava em Cabinda para que este estatuto de protectorado fosse reconhecido.”
“(O livro) traz uma visão crítica às principais personalidades portuguesas e angolanas que têm deixado o assunto cair no esquecimento, tentando passar uma esponja nos acordos que estavam em vigor na altura (da independência de Angola)”, declarou.
Segundo Orlando Castro, Portugal, através dos acordos de Alvor (assinados em 1975) reconheceu a independência angolana e violou acordos internacionais, tirando o direito do povo de Cabinda a ser considerado um território diferente de Angola.
“Portugal, enquanto ex-potência colonial, no caso de Angola, e que assinou os acordos de protectorado, no caso de Cabinda, não deveria esquecer que os direitos do povo de Cabinda não prescrevem e deveria fazer por Cabinda o que fez por Timor-Leste”, acrescentou.
De acordo com Orlando Castro, “Portugal deveria lutar por via diplomática e política para que houvesse um referendo em Cabinda, em que o povo pudesse escolher o seu futuro, eventualmente continuar como província de Angola, uma região autónoma, ou um país independente”.»
Nota: Orlando Castro é o nosso director-adjunto.
Folha 8 com “Timor Agora”